Ministérios Eclesiásticos
Episcopesa
+ Eliane Helena da Silva Nogueira – Missióloga / Conselheira Familiar / Especialista
em Capelanias / Juíza Eclesiástica e Comendadora da Justiça de Paz no Brasil /Bacharelada
em Comunicação / Bacharelada e Mestra em Teologia / PhD em Filosofia da Religião e Cientista da Teologia e da Religião.
Introdução Bíblica
Há mais de cinco séculos em primeiro lugar na lista
dos livros mais impressos, traduzidos, vendidos, lidos e comentados do mundo, a
Bíblia, livro sagrado do judaísmo e do cristianismo, inaugurou a invenção da
tipografia por Gutenberg, em 1450, e desde então seu texto já foi impresso em
mais de 300 idiomas e suscitou a publicação de milhares de obras de divulgação,
interpretação ou comentário.
Desde os primeiros textos, escritos em rolos de
papiro, até às modernas edições comentadas do século XX -- ao longo de cerca de
trinta séculos --, o texto bíblico manteve uma surpreendente vitalidade e
alimentou a fé de muitos povos e nações. Essa força decorre do permanente
diálogo entre o livro, que interpela a consciência dos homens, e os homens, que
o interrogam em busca de respostas a suas indagações transcendentes.
A Bíblia é uma coleção de textos, divididos em duas
partes: o Antigo ou Velho Testamento, reunido por etapas nos dez séculos
anteriores ao nascimento de Jesus Cristo; e o Novo Testamento, escrito durante
o século posterior a sua morte. A palavra "testamento" (testamentum
na tradução latina da Vulgata) traduz o grego diatheke, que por sua vez é tradução do termo hebraico berith,
"aliança". O uso do termo diatheke -- testamentum nos Evangelhos (p.
ex. Lc 20,22) e nas Epístolas (p. ex. Rm 9,1-11; Hb 8 e 9), que aludem a textos
como Gn 9 e 15 e Ex 24, 8, estabelece uma unidade espiritual entre os escritos
cristãos e a coleção judaica.
A palavra Bíblia corresponde ao plural grego de
biblion e significa "os livros". Refere-se aos livros que a compõem,
também denominados Sagradas Escrituras, devido a seu caráter canônico, isto é,
enquadrados em um cânon, ou padrão, como livros sagrados, diretamente
inspirados por Deus. Entretanto, o conjunto não é o mesmo para todas as
religiões, pois o critério de canonicidade difere de religião para religião.
Assim, no Antigo Testamento só são canônicos, para os judeus, os livros cujo
original hebraico foi encontrado, o que exclui Judite, Tobias, I e II Macabeus,
Sabedoria, Eclesiástico e Baruc, que são canônicos para os cristãos; e os
livros do Novo Testamento, que testemunham a vida de Jesus Cristo e de seus
apóstolos, são canônicos apenas para os cristãos.
Além desses livros, existem outros, que formam a
chamada literatura intertestamentária, e englobam: (1) os livros apócrifos --
alguns deuterocanônicos (ou seja, de canonicidade só reconhecida
posteriormente) para a Igreja Católica; outros, canônicos para a Igreja
Ortodoxa; e ainda outros não-canônicos para o judaísmo e o protestantismo; (2)
os pseudepigráficos (erroneamente atribuídos a autores bíblicos), não-canônicos
para todas as religiões; e (3) os
manuscritos do mar Morto, também considerados não-canônicos, embora ainda em
estudo por parte de especialistas de todas essas religiões.
Arqueologia bíblica. Até o século XIX, o estudo da
Bíblia sofreu limitações decorrentes da quase total ausência de informações
históricas extrabíblicas sobre os fatos narrados na Bíblia. Com as descobertas
proporcionadas por escavações arqueológicas, foi possível compor um quadro
geral mais nítido de todo o mundo antigo contemporâneo da história de Israel e
do cristianismo primitivo, isto é, desde a civilização sumeriana, da qual saiu
Abraão, até à época do helenismo e do Império Romano, em que se expandiu o
Evangelho.
Vários são os aspectos pesquisados pela arqueologia --
desde a construção de edifícios e confecção de vestuário, até a organização
militar, administrativa, política, religiosa e comercial. Os meios de
transporte, as armas e utensílios, a educação, o lazer, as profissões e
ofícios, os meios de subsistência, a estrutura urbana, sanitária e viária, a
escrita e as artes -- tudo concorre para formar esse imenso pano de fundo,
contra o qual se pode assistir com maior nitidez ao desenrolar da história
relatada nos livros bíblicos.
A partir de escritos preservados em tábuas de pedra e
barro, em hieróglifos ou em caracteres cuneiformes, foi possível uma
compreensão mais clara de como os judeus e os povos com os quais coexistiram
pensavam e agiam, como se vestiam, de que se alimentavam, que deuses cultuavam,
quais os seus ritos, sua filosofia, suas artes, como guerreavam ou estabeleciam
tratados de paz. Restaurar todos esses elementos, no grau em que foi possível,
significou restabelecer todo um conjunto de símbolos, um sistema de
significação que permitiu compreender melhor as inúmeras metáforas, a rede de
sentidos figurados em que se tece a linguagem da Bíblia.
Várias descobertas desse teor podem
ser citadas: as escavações realizadas em Ur, cidade natal de Abraão, que
permitiram a descoberta de textos alusivos a uma grande enchente, que se pode
correlacionar ao relato do dilúvio; e a localização de restos de uma construção
que pode ser ligada à descrição da torre de Babel. Em Nuzi, encontraram-se
referências ao sacrifício de crianças -- que Abraão substituiu pelo de animais
-- e ao roubo de ídolos, como refere o Gênesis (capítulo 31). No Egito,
levantaram-se relatos sobre a invasão dos hicsos, ao tempo de José. Em Susa, na
Babilônia, restaurou-se o código de Hamurabi, contemporâneo de Abraão. Numa
estela construída por volta do ano 1200 a.C., há citações sobre Israel e
Palestina.
Interpretação da Bíblia. Existe uma hermenêutica
bíblica, isto é, uma doutrina e um método de interpretação do texto bíblico,
com regras gerais e particulares a serem aplicadas na busca e determinação de
sentido. A exegese, que é a aplicação prática dessas regras, obedece a certas
etapas: estabelecimento do texto original, com base em manuscritos, traduções
antigas, documentos etc; configuração do sentido contextual, para resgatar os
significados que as palavras e expressões possuíam na época e no meio em que
foram formuladas. Além do sentido literal, os pesquisadores buscam sentidos
adicionais, baseados em outros princípios hermenêuticos. O principal, e o único
legítimo, é o tipológico, que interpreta os fatos, personagens e instituições
do Antigo Testamento como "tipos" ou prefigurações das realidades da
Nova Aliança (p. ex. Jo 3,14-15, aludindo a Num 21, 8-9; ver também 1Cor 10,
1-11, onde o termo typos é usado duas vezes). Antigamente usava-se também o
termo "sentido alegórico", para indicar, na maioria das vezes, o que
depois passou-se a chamar de sentido tipológico. Uma interpretação alegórica,
porém, que se esmerasse em buscar sentidos mais "altos", mais
"profundos", mais " espirituais", sem base no sentido
literal entendido pelo autor humano, nem na tipologia, não seria uma verdadeira
e legítima interpretação do texto bíblico.
O chamado "sentido pleno" nada mais é do que
o resultado de uma comparação ou combinação de diversas fórmulas bíblicas de um
mesmo tema. Isso pode levar a um enriquecimento da mente do leitor, mas não
acrescenta nada ao sentido literal ou tipológico de cada texto.
Leitura e
liturgia. A igreja primitiva considerava a leitura das Sagradas Escrituras uma
maneira eficaz de entrar em contato com Deus. Essa postura determinou a
disseminação de traduções, que acompanharam o crescimento da igreja, desde a
Judéia e Samaria, até a Anatólia -- Éfeso, Pérgamo, Laodicéia, Filadélfia --,
Grécia, e finalmente Roma, onde são Pedro estabeleceu sua sé. Os papas sempre aconselharam
a leitura privada da Bíblia, como fonte de vida espiritual, pregação e
catequese.
No rito católico, a liturgia da palavra e a celebração
da eucaristia sempre estiveram juntas. Com as mudanças introduzidas na
liturgia, a partir do papa João XXIII, a leitura de trechos do Antigo
Testamento, de uma epístola e do Evangelho passaram a ser feitas não mais em
latim, pelo texto da Vulgata -- tradução latina oficial da Igreja Católica --
mas na língua do lugar onde se celebra o culto. No entanto, a proliferação de
traduções, nem sempre confiáveis, já havia levado a Santa Sé a estabelecer
normas e limitar a leitura às edições devidamente revistas e aprovadas.
No rito oriental, sobretudo após as grandes
controvérsias teológicas dos quatro primeiros séculos, incorporou-se a prática
de compor textos de orações, hinos e cantos corais alusivos a diversas
passagens da Bíblia, que funcionavam como pequenos sermões. A Igreja Ortodoxa
oriental adota muitos textos nessa linha, como orações que proclamam a teologia
ortodoxa, o canto diário de salmos, com maior ênfase no culto do domingo. Na
tradição grega adotam-se hinos de composição livre, baseados em personagens ou
episódios bíblicos, ou paráfrases de passagens das Escrituras.
A liturgia do judaísmo é a da sinagoga, que começou ao
tempo do exílio da Babilônia, no século VI a.C. e substituiu aos poucos o culto
do templo. Como a sinagoga estava separada do templo de Jerusalém, cada
instituição adotava sua própria liturgia. A congregação dos rabinos prestava
culto à parte, em certos dias festivos prescritos pela Bíblia; o povo
prescindia de sacerdote, mas mantinha um estreito sentido de comunidade, que
agia segundo a palavra de Deus, expressa nas Escrituras. Obedecia aos dias,
semanas, meses e anos prescritos, o que dava uma ordem à vida comunitária. A
leitura em voz alta, nas sinagogas, era o ponto alto do culto, e muito
concorreu para que o texto bíblico se tornasse familiar aos judeus.
A fé protestante está dividida em tão grande número de
grupos culturais e religiosos, com perspectivas teológicas tão diversas, que
não há como generalizar sobre as relações entre o culto e a Bíblia. Para os
anglicanos, como também para a maioria dos luteranos, no século XX, prevalecem
as mesmas orientações vigentes para os católicos, com a composição de orações,
hinos e cânticos inspirados na Bíblia. Certas correntes protestantes de
orientação fundamentalista, que mantêm uma interpretação mais radicalmente
literal, nada além da Bíblia deve servir como texto de culto. A liturgia
protestante das demais confissões situa-se entre esses dois extremos.
Textos originais. De nenhum livro
bíblico possui-se o manuscrito original. Existem, porém, numerosas cópias
manuscritas de séculos posteriores que, comparadas entre si e com as mais
antigas traduções, permitem uma reconstrução bastante fidedigna dos textos. Do
Antigo Testamento hebraico e aramaico, foi elaborada uma versão definitiva
pelos massoretas (de massora, tradição), entre os anos 750 e 1000. Na base de
um grande número de manuscritos, praticamente uniformes desde o século II da
era cristã, e da tradição oral, os massoretas estabeleceram um texto munido de
um complexo sistema de sinais de vocalização e pronúncia, texto esse que sempre
foi usado como base principal para todas as edições e traduções posteriores.
Dos livros do Antigo Testamento escritos em grego, e
de todo o Novo Testamento, foram feitas várias edições críticas, com base em
centenas de manuscritos, numa tentativa de reconstruir da melhor maneira
possível a versão original dos autores inspirados. Esse imenso esforço crítico,
que data principalmente do século XIX, forma a base de todas as traduções
modernas, como por exemplo a francesa Bible de Jérusalem.
Traduções da Bíblia. O texto original da Bíblia, em
hebraico e aramaico no Antigo Testamento e em grego no Novo Testamento, seria
inacessível ao leitor comum. Toda a enorme influência religiosa, política,
social e cultural da Bíblia deveu-se às traduções. Elas começaram bem antes do
nascimento de Cristo, e multiplicaram-se a partir da disseminação da fé cristã.
A invenção da imprensa de tipos móveis, no século XV, deu ensejo a nova onda de
traduções, que continuaram a multiplicar-se até o tempo presente, quer de todo
o texto canônico, quer de livros não-canônicos, mas de interesse para o estudo
da mensagem judaico-cristã.
Traduções antigas. A mais antiga tradução do Velho
Testamento é a Septuaginta, ou Versão dos Setenta, nome que tem sua origem na
lenda segundo a qual 72 judeus, seis de cada tribo de Israel, teriam feito essa
tradução do Antigo Testamento para o grego em 72 dias. Realizada em Alexandria,
entre 250 e 150 a.C., aproximadamente, destinava-se aos judeus da diáspora --
os que, voluntária ou coercitivamente, se encontravam fora de Israel. Do Egito
espalhou-se por outras regiões, até tornar-se a Bíblia oficial do judaísmo
helenista. As traduções seguintes já compreendem a Bíblia inteira, e foram
feitas pelos iniciadores do cristianismo nas regiões orientais do Império
Romano. A principal tradução siríaca é a
Pechitta (a comum). A tradução do Antigo Testamento é muito antiga; foi
começada desde o século II. O texto oficial da igreja síria para o Novo
Testamento, na sua forma atual, remonta provavelmente a Rábulo, bispo de Edessa
(411-435). A tradução armênia data do século V, pelo bispo Mesrop, e inaugura a
língua literária nesse idioma.
Por volta do ano 170, Taciano, discípulo de são
Justino, compôs o Diatessaron, compilação dos quatro Evangelhos em um só,
também denominado Harmonia evangélica. Foi escrita provavelmente em grego, e
traduzida para o siríaco pelo próprio Taciano. Esse texto serviu como uma
espécie de Evangelho padrão para os sírios até perto do ano 400, quando foi
substituído pelos quatro Evangelhos separados. Tanto o texto grego como o
siríaco perderam-se e só podem ser reconstituídos, parcialmente, por fontes
indiretas.
Após o cativeiro do Egito, o povo judeu já não mais
entendia o hebraico, e por isso foi preparada uma tradução oral da Bíblia em
aramaico, o Targum, posteriormente guardada por escrito. A cópia hoje conhecida
data de época muito posterior, mas grandes trechos remontam ao período
pré-cristão.
Por volta do ano 245, Orígenes, o mais influente
teólogo e especialista em texto bíblico da nascente igreja grega, elaborou em
Cesaréia, na Palestina, uma versão do Antigo Testamento, denominada Hexapla (em
grego, livro sextuplicado). Apresentava as versões grega e hebraica em seis
colunas paralelas, na seguinte ordem: texto hebraico em caracteres hebraicos;
texto hebraico em caracteres gregos; texto grego de Áquila (autor de uma
tradução literal do Antigo Testamento); texto grego do sábio judeu Símaco;
texto da Septuaginta; e texto grego do helenista judeu Teodócio. O trabalho
consumiu vinte anos e totalizou cerca de sete mil páginas. Talvez devido a essa
extensão, jamais foi copiado integralmente, e dele restam apenas fragmentos.
Traduções latinas. Dentre as muitas traduções da
Bíblia, as de maior importância para a expansão do cristianismo nascente foram
as feitas para o latim. A mais antiga foi a Itala, realizada entre o ano 200 e
o 250, na Itália, quando começava a se extinguir o conhecimento da língua grega
nas regiões ocidentais do Império Romano. Foi substituída pela Vulgata,
realizada por são Jerônimo, por ordem do papa Dâmaso, no século IV. Para o Novo
Testamento, o tradutor respeitou o texto latino antigo, que já se tornara
familiar, mas corrigiu-o de acordo com bons manuscritos gregos. Entre 386 e
389, são Jerônimo corrigiu a tradução
latina do Antigo Testamento na base da héxapla de Orígenes. Entre 390 e 406,
porém, elaborou uma nova tradução latina do Antigo Testamento, diretamente do
hebraico e do aramaico. No século VIII a versão definitiva de são Jerônimo
acabou por suplantar as demais traduções latinas, mas foi somente por volta do
século XVI que recebeu o nome de Vulgata, devido a sua larga divulgação. O
termo era antes aplicado à versão dos Setenta ou à Itala. Quatro séculos
depois, ao encerrar-se o Concílio Vaticano II, o papa Paulo VI designou uma
comissão de peritos com a incumbência de realizar uma revisão da Vulgata, a fim
de incorporar os resultados dos trabalhos exegéticos que se haviam acumulado
nos últimos séculos e assim obter-se uma versão latina atualizada em relação à
ciência bíblica atual.
Traduções portuguesas. Das traduções para o português,
a mais antiga foi feita, no século XVII, por João Ferreira de Almeida,
missionário católico na Índia, posteriormente convertido ao protestantismo.
Baseada no texto grego, quase sempre discordou da Vulgata, embora fosse de orientação
católica. De melhor qualidade é a segunda tradução para o português do Antigo e
do Novo Testamento, realizada no século XVIII, por Antônio Pereira de
Figueiredo. Baseada na Vulgata, teve maior acolhida dos protestantes que dos
católicos.
Em 1981 foi publicada a Bíblia de Jerusalém, traduzida
dos originais, com introduções e notas traduzidas de La Sainte Bible, publicada
em 1973 sob a direção da École Biblique de Jérusalem. Outras boas versões são a
Bíblia Sagrada da Editora Ave Maria, traduzida dos originais hebraico, aramaico
e grego, mediante a versão francesa dos monges de Maredsou, Bélgica, pelo
Centro Bíblico de São Paulo; e a Bíblia do Pão, da Editora Vozes, diretamente
dos textos originais, com introduções e notas explicativas e remissivas.
Traduções alemãs. Para o alemão, o
Novo Testamento foi traduzido por Martinho Lutero, em 1522. Zwingli mandou
acrescentar-lhe, em 1530, uma tradução do Antigo Testamento feita por seus
companheiros Pellican, Bibliander e outros (Bíblia de Zurique), mas esta foi
logo suplantada pela tradução do Antigo Testamento por Lutero, em 1534. A
Bíblia de Lutero tornou-se de uso comum por todos os protestantes de língua
alemã. É o primeiro e talvez o maior documento da literatura alemã moderna,
cuja língua foi determinada por essa obra.
Traduções inglesas. A primeira tradução para o inglês,
de John Wycliffe, caiu em esquecimento, com o fracasso de seu movimento
reformador. A reforma da igreja da Inglaterra por Henrique VIII foi precedida e
acompanhada pelas traduções de William Tyndale (Novo Testamento em 1525,
Pentateuco em 1531), em estilo solene e arcaico. Em 1535, Miles Coverdale
traduziu a Bíblia inteira, tradução oficialmente aceita depois da revisão pelo
arcebispo Cranmer, em 1540. Adeptos de uma reforma mais radical, William
Whittingham e outros criaram em 1560 a Bíblia de Genebra, texto lido pelos
puritanos, pelos Pilgrim Fathers na América e por Cromwell.
Rejeitando o texto dos calvinistas de Genebra, a
Igreja Anglicana mandou fazer outra tradução, a do arcebispo Matthew Parker e
de outros bispos (Bishop's Bible, 1568). O rei Jaime I encomendou uma nova
versão dessa Bíblia, realizada em 1611 por uma comissão de 47 tradutores sob a
direção de Lancelot Andrewes, e cujo uso na Igreja Anglicana foi autorizado. É esta
a Authorized Version, dita também King James Bible, um dos maiores monumentos
da língua e que exerceu influência profunda sobre toda a literatura inglesa.
Traduções italianas. O primeiro tradutor protestante
da Bíblia na Itália foi Pagninus (1528), seguido por Antonio Brucioli
(1530-1532). Os católicos responderam com o Velho Testamento traduzido por
Santi Marmochini, e o Novo Testamento traduzido por Zaccheria (1538). A mais
importante tradução protestante da Bíblia para o italiano é a de Giovanni Diodati
(1607). Uma tradução católica é a de Antonio Martini, do século XVIII.
Traduções francesas. Em 1530 saiu a tradução do
católico Jacques Le Fèvre D'Étaples, seguida pela do protestante Pierre Robert,
dito Olivétan, cuja tradução de 1535 conquistou o protestantismo francês, sendo
revista por Ostervald em 1724. Depois da tradução do católico Corbin, veio a
melhor de todas, a do jansenista Louis-Isaac Le Maître de Sacy. Traduções mais
modernas são a do protestante L. Segond (1880) e a do católico A. Crampon (1894).
Em 1956 saiu a tradução completa feita sob a direção da École Biblique de
Jérusalem, dominicana.
Outras traduções. Tanto nas línguas mencionadas como
nas demais línguas da Europa apareceram numerosas traduções, parciais ou
completas, desde a Idade Média até os tempos modernos, sempre na linguagem de
cada época, e tanto do lado protestante como do lado católico e -- para o
Antigo Testamento -- judaico. Muitas traduções da Bíblia foram feitas, integral
ou parcialmente, com fins missionários, para línguas faladas fora do mundo
cristão. Colonizadores ingleses na América do Norte fizeram uma versão para a
língua dos índios algonquinos, no século XVII. No século XIX, apareceram
traduções para o chinês, o birmanês e o sânscrito, esta última destinada às classes
letradas da Índia. No século XX a Bíblia foi traduzida para o árabe (1965) e
sobretudo para línguas africanas.
Livros da Bíblia. A Bíblia cristã, em sua edição
canônica completa, compõe-se de 73 livros -- 46 do Antigo Testamento e 27 do
Novo Testamento. Esses dois grandes conjuntos estão segmentados em grupos,
segundo sua natureza, autoria, sentido etc. Na Bíblia cristã, a titulação dos
livros leva em conta a natureza de seu conteúdo. Na hebraica, toma-se a
primeira palavra do texto como título.
A abordagem dos livros bíblicos por grupos proporciona
uma visão do conjunto e ao mesmo tempo facilita a compreensão das linhas
principais de pensamento que orientaram sua composição.
Antigo
Testamento.
Para os judeus, a coleção dos livros bíblicos escritos
antes do nascimento de Jesus Cristo é a própria Bíblia. Os cristãos denominam
essa coleção de Antigo ou Velho Testamento, porque entendem que eles
testemunham os acontecimentos do passado, que preparam a vinda do Cristo e a
prenunciam na palavra dos profetas. Cristo é a tradução grega da palavra
hebraica mashiah, messias, "ungido", o que vem para salvar a
humanidade.
Pentateuco. O conjunto formado pelos cinco primeiros
livros da Bíblia denomina-se Pentateuco -- em grego, livro em cinco volumes. Os
judeus o chamam de Torá, palavra hebraica que significa lei, diretiva,
instrução -- ou seja, o conjunto das instruções, ou leis de Deus, transmitidas
ao povo israelita através de Moisés, o grande fundador de Israel, como povo e
como religião.
Gênesis. O primeiro livro do Pentateuco é o Gênesis,
título que se refere a seu conteúdo, que é a origem, a gênese de todas as
coisas, da Terra, do homem e do cosmo. Os judeus o intitulam Be-Reshit, em
alusão às palavras iniciais "No princípio". A primeira parte reporta-se, segundo a óptica
monoteísta, às tradições da Mesopotâmia, região situada entre os rios Tigre e
Eufrates, berço de antigas civilizações e cenário dos acontecimentos aí
narrados. Inserem-se mitos e tradições populares em torno de fenômenos de ordem
natural e cultural: o paraíso, o pecado original, o primeiro homicídio (Caim e
Abel), o dilúvio e a aliança de Noé com Deus, a torre de Babel.
A parte restante relata a história dos povos
precursores dos hebreus. Trata das dez primeiras gerações, desde Adão,
ancestral da humanidade, até Abraão, progenitor do povo de Israel; e deste até
os 12 filhos de Jacó, chefes das 12 tribos que constituem esse povo.
Êxodo. O segundo livro do Pentateuco é o Êxodo, título
cristão que alude ao principal tema, a saída
dos judeus do Egito. O título judaico é Shemot ("Nomes").
Narra a opressão dos israelitas pelos egípcios, o surgimento de Moisés, que
liderará a fuga em obediência ao comando divino, a revelação das leis de Deus
impressas nas tábuas de pedra, a traição do povo, que na ausência do seu líder
passa a adorar o bezerro de ouro, e a ira de Moisés, que castiga os infiéis com
a ajuda dos levitas.
Levítico. O terceiro livro é o Levítico, intitulado
pelos judeus Va-Yikra ("E chamou"). Contém quatro grupos de leis: o
ritual dos sacrifícios; o cerimonial de investidura dos sacerdotes; as normas
que discriminam o puro do impuro; e a lei da santidade, com calendário
litúrgico, bênçãos e maldições. Seu caráter eminentemente legislativo
interrompe a seqüência narrativa.
Números. A narrativa é retomada no quarto livro,
intitulado Números, em alusão ao fato de enumerar as tribos de Israel. Em
hebraico, denomina-se Bammidbar ("No deserto"). Relata a marcha dos
judeus pelo deserto, desde a partida do Sinai, a montanha santa, precedida de
um recenseamento do povo, até a chegada a Cades, de onde tentam, sem êxito,
penetrar em Canaã. Chegam finalmente às estepes de Moab, defronte a Jericó,
onde se estabelecem as tribos de Rúben e Gad.
Deuteronômio. O quinto e último livro do Pentateuco é
o Deuteronômio, que significa repetição da lei, ou segunda lei. No cânon
hebraico é chamado Elleh hadd barim ("Estas são as palavras"). Este
livro, como a maior parte do Pentateuco, é de origem posterior. Foi elaborado
por sacerdotes e profetas que se consideravam continuadores da obra de Moisés.
Mesmo permanecendo anônimos, alegam a autoridade de Moisés e colocam as suas
leis e exortações na boca do fundador.
Livros históricos. Na Bíblia cristã, esses livros
estão agrupados em quatro blocos: (1) Josué, Juízes, Rute, Samuel e Reis; (2)
Crônicas, Esdras e Neemias; (3) Tobias, Judite e Ester; (4) Macabeus. Na Bíblia
hebraica, Josué, Juízes, Samuel e Reis são chamados profetas anteriores, para
distingui-los de Isaías, Jeremias, Ezequiel e os 12 profetas menores, que são os
posteriores. Chamam-se históricos porque têm como tema principal as relações de
Israel com Iavé, nome pelo qual os israelitas designam Deus.
Primeiro bloco. O Deuteronômio, último livro do
Pentateuco, relata em seu capítulo final que, após a morte de Moisés,
"Josué, filho de Nun, estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto
Moisés lhe impusera as mãos." Eis por que Josué é o primeiro dos livros
históricos, pois seu relato dá imediata continuidade ao Deuteronômio. Mostra
como o povo eleito instalou-se na terra prometida, Canaã, depois de atravessar
o Jordão. Por meio da conquista de Jericó, os israelitas, comandados por Josué,
apropriam-se da nova terra, cuja posse vai ser mantida enquanto houver
obediência à lei. É feita a divisão da terra entre as tribos transjordânicas e
cisjordânicas, que testemunham sua unidade pelo altar comum dedicado a Iavé.
Com a morte de Josué, os filhos de Israel consultam Iavé sobre quem os dirigirá
doravante, e recebem como resposta o destaque da tribo de Judá.
Assim começa o segundo livro histórico, Juízes, cujo
nome se refere aos heróis da libertação, chefes escolhidos por Deus para
governar seu povo, no período entre a morte de Josué e a entronização de Saul,
primeiro rei de Israel.
Rute, o terceiro livro histórico, narra a conversão da
moabita Rute, seu casamento com Booz e o nascimento de seu filho, Obed, que
será o avô de Davi. É um livro de genealogia judaica, de Farés até o rei Davi.
Os dois livros de Samuel, que na Bíblia hebraica
constituem um só, relata o início do período monárquico. Foi Samuel, chefe
religioso dos israelenses, quem ungiu o primeiro rei, Saul, seu sucessor, Davi,
e quem os repreendeu por seus pecados.
Os dois livros dos Reis, quinto dos históricos,
formam, como os de Samuel uma só obra na Bíblia hebraica. Seu relato abrange um
longo período, que vai de Samuel até à queda de Jerusalém, e o cativeiro na
Babilônia.
Segundo bloco. Crônicas, Esdras e Neemias formam um
segundo grupo de livros históricos, que repetem e prolongam os relatos
constantes dos livros anteriores. As Crônicas, tanto na Bíblia hebraica quanto
na edição da Vulgata, recebem o nome de Paralipômenos, ou seja, livros que
relatam as coisas omissas. Referem-se à época em que o povo judeu, que perdera
a independência política, lutava por viver segundo as normas de sua lei
religiosa. Contêm as listas genealógicas das tribos israelitas, desde Adão até
Davi, um relato sobre o governo deste último e sobre o governo de Salomão --
com ênfase na construção do templo -- e a história do reino de Judá, até sua
destruição. Esdras e Neemias narram a volta dos judeus da Babilônia e a
reconstituição de Jerusalém.
Terceiro bloco. O terceiro grupo dos livros históricos
compõe-se de Tobias, Judite e Ester. Os dois primeiros não foram admitidos nem
pela Bíblia hebraica nem pelos protestantes. Para a Igreja Católica, são
deuterocanônicos, admitidos depois do sínodo romano do ano 382. Os três livros
são cheios de inconsistências históricas, misturam datas e lugares e apresentam
omissões. No entanto, são extremamente bem escritos, de leitura agradável e
absorvente, e inspiram-se em relatos patriarcais do Gênesis. Tobias é uma história
edificante, em que se ressaltam a caridade, os deveres para com os mortos e o
sentimento familiar. Judite conta a vitória do povo eleito contra seus
inimigos, graças à coragem de uma mulher. O mesmo enredo é o tema de Ester, em
que se evidencia a hostilidade que os judeus provocavam no mundo antigo, devido
à singularidade de sua vida.
Quarto bloco. O último grupo dos históricos é formado
pelos dois livros dos Macabeus, que não fazem parte do cânon judaico e do
protestante e são deuterocanônicos para os católicos. O título refere-se a
Judas Macabeu, filho do sacerdote Matatias, e seus seguidores, que lutaram pela
liberdade religiosa de Israel contra Antíoco, rei dos selêucidas. É sobretudo
impressionante o martírio da mãe e dos sete filhos, que preferiram a tortura e
a morte a ter que transgredir a lei. O sacrifício serviu de incentivo à luta
organizada por Matatias. Os dois livros não têm, em seu conjunto, um relato
contínuo, e seu estilo literário é diferente.
Livros poéticos e sapienciais. Esse conjunto divide-se
em dois grupos: os sapienciais -- Jó, Provérbios, Eclesiastes, Eclesiástico e
Sabedoria; e os poéticos -- Salmos e Cântico dos Cânticos. O primeiro grupo
apresenta menos considerações religiosas que profanas, pois preocupa-se com a
arte de bem viver, no sentido amplo do termo. Entretanto, essa sabedoria é, em
última análise, o temor a Deus, que se expressa na piedade. A obra-prima desse
conjunto é o livro de Jó, história de um homem justo, que permanece
heroicamente fiel a Deus, apesar das provações excepcionais a que é submetido.
O livro que melhor tipifica a sabedoria de Israel é o dos Provérbios, que
representa vários séculos de reflexão dos sábios judeus.
As palavras iniciais do Eclesiastes -- "Vaidade
das vaidades, tudo é vaidade" -- dão o tom desse livro, uma meditação
contínua e dolorosa sobre a brevidade da vida e a inutilidade da labuta do
homem, que nenhum proveito tira "de todo o trabalho com que se afadiga
debaixo do sol". O autor considera que os prazeres da vida, momentâneos e
fugazes, são uma dádiva de Deus, que deles posteriormente pedirá contas. Apesar
de passar uma sensação pessimista, o livro contém uma mensagem de esperança, ao
recomendar uma atitude religiosa, de reverência a Deus e de observância de seus
mandamentos, como forma de gozar dos prazeres honestos da vida, em consonância
com a vontade divina.
Semelhante ao
livro dos Provérbios, o Eclesiástico contém uma série de máximas e ensinamentos
sobre os problemas da vida religiosa e profana. É um dos livros considerados
deuterocanônicos pelos católicos e apócrifos por judeus e protestantes. Os
padres dos primeiros tempos da igreja usaram-no como uma espécie de catecismo
para instrução dos catecúmenos. Sabedoria, também deuterocanônico, mostra o
papel da sabedoria no destino humano, expõe sua natureza e origem e os meios
para adquiri-la, e exalta sua ação na história do povo eleito. Sua autoria é
atribuída a Salomão, e destinava-se a mostrar aos judeus helenizados que a
sabedoria de Israel em nada era inferior à grega.
Os Salmos, cerca de metade dos quais atribuídos a
Davi, é uma coleção de 150 hinos de louvor a Deus, de arrependimento, de
súplica, de ações de graças ou de rememoração de acontecimentos sagrados. Os
judeus os usavam nas funções litúrgicas do templo. Os cristãos usam-nos desde o
tempo dos apóstolos. O Cântico dos Cânticos é, de todos os livros do Antigo
Testamento, o de interpretação mais polêmica devido a seu tema: o amor mútuo
entre um amado e sua amada, que se unem, se perdem, se buscam e voltam a se
encontrar. Por empregar a linguagem de um amor apaixonado, causou estranheza e
suscitou dúvidas quanto a sua canonicidade. Uma das interpretações mais antigas
é a que lhe atribui um sentido alegórico -- o amor de Deus por Israel, e do
povo por seu Deus. Alguns exegetas católicos preferem a interpretação literal:
os cânticos celebram o amor mútuo e fiel, confirmado pelo sacramento do
matrimônio.
Livros proféticos. O último conjunto de livros do
Antigo Testamento refere-se a uma das instituições mais antigas da cultura dos
povos semíticos: a profecia. A própria convicção de acreditar-se povo escolhido
por Deus já constituía uma premissa suficiente para o surgimento de profetas,
como intermediários especialmente enviados para transmitir a palavra divina. Os
profetas representaram um papel decisivo para a propagação da moralidade
judaica e do monoteísmo. A filosofia mosaica determinou o caráter fundamental
das profecias, que é seu conteúdo moralizante. O motivo central do discurso
profético é o ataque à corrupção religiosa e social, vista como prenúncio de
graves problemas para a nação. Na perspectiva, porém, do castigo anunciado,
surge sempre a esperança de uma futura conversão, e da eterna fidelidade de
Deus a sua aliança com Israel, garantia de felicidade perene, na era messiânica.
As declarações dos profetas eram inicialmente verbais, mas a partir do século
VIII a.C. passaram a contar com registros escritos.
O profeta, como homem que tem uma comunicação direta e
imediata com Deus, recebe a revelação de seus desígnios, que julga o presente e
prevê o futuro, e é enviado por Deus para conduzir os homens a seu amor. É por
essas características que se considera Moisés o primeiro profeta, o maior de
todos, que inaugura a linhagem dos herdeiros de seu dom, a começar por seu sucessor,
Josué. O Antigo Testamento apresenta os profetas em duas grandes divisões: os
maiores e os menores. No primeiro grupo figuram Isaías, Jeremias, Ezequiel e
Daniel. Os profetas menores, assim chamados não por serem considerados de menor
importância, mas pela pouca extensão de seus escritos, são Oséias, Joel, Amós,
Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.
Profetas maiores. As palavras de Isaías ressoam como
uma profissão de fé em sua missão profética: "O espírito do Senhor Iavé
está sobre mim, porque Iavé me ungiu; enviou-me a anunciar a boa nova aos
pobres, a curar os quebrantados de coração e proclamar a liberdade aos cativos,
a libertação aos que estão presos..." Nascido em 765 a.C., aos 25 anos
Isaías recebeu, no templo de Jerusalém, a missão de anunciar a ruína de Judá e
Israel, em castigo pelas infidelidades de seu povo. A vida do profeta divide-se
em quatro períodos: o primeiro vai do início de sua vocação até à posse do rei
Acaz e como principal preocupação a corrupção do reino de Judá, nascida do luxo
decorrente da prosperidade econômica; o segundo é o da oposição à aliança de
Acaz com a Assíria e a retirada de Isaías da vida pública; o terceiro é também
de oposição a qualquer aliança militar, e de exortação à confiança em Deus; o
quarto marca-se pelo apoio ao rei de Judá em sua resistência ao inimigo e em
seu apoio a Jerusalém.
O livro de Isaías compõe-se de duas partes: a primeira
é uma advertência ao povo sobre os castigos decorrentes de sua impiedade; a
segunda, uma apresentação das revelações da misericórdia de Deus em predição da
vinda de um messias e seu reino "porque Iavé irá a vossa frente, o Deus de
Israel será a vossa retaguarda (...) entregou a sua alma à morte e foi contado
com os transgressores, mas na verdade levou sobre si o pecado de muitos e pelos
transgressores fez intercessão". Por isso mesmo, o livro teve enorme
influência sobre o Novo Testamento, que o cita textualmente mais de cinqüenta
vezes.
Jeremias escreveu suas profecias entre os anos 620 e
590 a.C. e seu relato, embora não constitua uma autobiografia, dá a conhecer,
como nenhum outro profeta, seu caráter e sua vida. Jeremias viveu no período
trágico em que se consumou a ruína do reino de Judá. Dirigiu seus oráculos a
todas as classes, aos sacerdotes, aos governantes e até às crianças. Os
militares acusaram-no de derrotismo, pela força de suas profecias. Após a
tomada de Jerusalém, permaneceu na Palestina, de onde foi obrigado a fugir para
o Egito. Seu drama pessoal está não somente nos episódios catastróficos que foi
obrigado a testemunhar, mas também na contradição entre sua índole pacífica e
terna e a obrigação de lutar contra reis, sacerdotes e falsos profetas, e
predizer tantas desgraças para seu povo.
O livro de Jeremias divide-se em quatro partes: as
admoestações e ameaças; a salvação universal, em virtude da nova aliança; as
profecias individuais; e as profecias das nações. A importância do texto
decorre principalmente de sua concepção de Deus e da possibilidade de sua
íntima união com o homem. A profecia de maior influência sobre o Novo
Testamento é a da nova aliança, prometida por Iavé, "não como a aliança
que selei com seus pais, no dia em que os tomei pela mão e os fiz sair da terra
do Egito (...) porque esta é a aliança que selarei com a casa de Israel depois
desses dias (...) porque vou perdoar sua culpa e não me lembrarei mais de seu
pecado". Para os cristãos, esse é um dos oráculos do Velho Testamento que
prefiguram a vinda de Cristo.
Ezequiel foi um sacerdote de educação esmerada,
mandado para o exílio por Nabucodonosor, em 597 a.C. Aos trinta anos, recebeu o
chamado profético, e durante 25 anos exerceu sua missão. O livro de Ezequiel
divide-se em quatro partes, além da introdução: a primeira contém repreensões e
ameaças contra os judeus antes do cerco de Jerusalém; na segunda, o profeta
estende as maldições divinas às nações infiéis e seus cúmplices; a terceira
passa-se durante e após o cerco e está cheia de consolações; a quarta encerra
uma previsão da era messiânica. Suas visões darão origem à corrente
escatológica, com nítida influência sobre o profeta Daniel e sobre o Apocalipse
de são João.
O profeta Daniel pertencia a uma família importante de
Judá. Deportado para Babel por Nabucodonosor, conseguiu um posto na corte.
Graças a sua fiel observância da lei de Deus, foi favorecido com uma grande
sabedoria, e com a capacidade de interpretar sonhos e mistérios. O conteúdo
principal do livro de Daniel é a narrativa dos sucessos por que passou o
profeta: a conquista da confiança do rei; o sonho de Nabucodonosor e sua
interpretação; Daniel com seus amigos Sidrac, Misac e Abdênago, lançados na
fornalha, e sua caminhada ilesos no meio das chamas; a previsão, a partir de
outro sonho, da loucura de Nabucodonosor; o festim de Baltasar com os cálices
de ouro saqueados do templo, a interpretação das palavras aparecidas na parede
e as previsões da tomada do reino por Dario e da morte de Baltasar; Daniel na
cova dos leões, a mando de Dario, por força de intriga palaciana, e sua
salvação miraculosa. O principal objetivo do livro foi sustentar a fé e a
esperança dos judeus em meio às vicissitudes.
Profetas menores. Os 12 livros dos profetas menores
foram escritos durante um período muito extenso -- do século VIII ao III a.C.
-- e por isso constituem fonte inestimável para o conhecimento da antiga
civilização judaica, em seus aspectos sociais, religiosos e políticos. A ordem
em que aparecem não é a mesma nas versões cristãs da Bíblia -- a Vulgata e a
Setenta -- que por sua vez diferem da adotada pelo texto massorético. Em
nenhuma das três a ordem observada é a cronológica. Na tradição hebraica, são
conhecidos pelo nome de tere asar, que na língua aramaica significa 12, e estão
colocados logo depois do livro de Ezequiel.
Oséias viveu no século VIII a.C., no reinado de
Jeroboão II, que retomou os territórios anexados pela Assíria. No plano
interno, apesar da prosperidade econômica, seu governo foi marcado pela
corrupção e pela busca desenfreada de prazer e lucro. É nesse ambiente que
Oséias -- como também Amós -- vai exercer sua atividade profética e anunciar o
processo que Iavé vai abrir "contra os habitantes do país, porque não há
fidedignidade, nem amor, nem conhecimento de Deus (...) aumentam o perjúrio, a
mentira, o assassínio, o roubo e o adultério; sangue derramado soma-se a sangue
derramado".
O segundo dos profetas menores é Joel, que faz uma
descrição da praga de gafanhotos que se abaterá primeiro sobre os campos e
depois sobre a cidade, como castigo de Iavé. O país, que antes da praga era
"como um jardim do Éden, depois dele será um deserto desolado". Mas
depois do flagelo, Iavé terá zelo e piedade: "Eis que vos envio trigo,
vinho e óleo. Saciar-vos-ei deles. Não mais farei de vós um opróbrio entre as
nações." Em seguida, Iavé derramará seu espírito sobre todo o povo:
"Vossos filhos e filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, vossos
jovens terão visões." E conclui com a promessa de que "Iavé habitará
em Sião".
Pastor e podador de sicômoros, a vida profissional de
Amós, terceiro dos profetas menores, se revela em seu estilo, cheio de imagens
retiradas da natureza e da vida
campestre. Consciente da corrupção interna do reino de Jeroboão II, e de que a
moralidade social é um fator determinante da vida de um povo, repreende as
classes ricas, que exploram os trabalhadores. Em conseqüência desses pecados,
"porque oprimis o fraco e tomais dele um imposto de trigo", para
proveito próprio, muitos castigos sobrevirão. O penúltimo capítulo do livro
relata as visões de pragas de gafanhotos, seca, fome e luto; no último, vêm as
perspectivas de recuperação e de fecundidade paradisíaca, em que as cidades
serão restauradas, os habitantes "plantarão vinhas e beberão o seu vinho,
cultivarão pomares e comerão os seus frutos".
O
livro que contém as profecias de Abdias, quarto dos profetas menores, consiste
em um único capítulo, e é o menor da Bíblia. Sua profecia se apresenta em duas
partes: o castigo de Edom, anunciado em pequenos oráculos dispersos pelo livro;
e o dia de Iavé, em que Israel se vingará de Edom. O plano histórico em que
desenvolvem essas profecias é o da invasão do sul da Judéia pelos edomitas,
após a ruína de Jerusalém. Constitui na verdade um clamor de vingança, de
espírito nacionalista, embora exalte a justiça e o poder de Iavé, a quem pertencerá
finalmente o reino.
O livro de Jonas é atípico em relação aos outros
profetas menores, por dois motivos: seu título não se refere ao autor, mas ao
personagem principal; não apresenta fatos históricos, mas uma parábola. Jonas,
encarregado por Iavé de pregar a penitência em Nínive, capital da Assíria, toma
outro destino e embarca para Társis. Uma tempestade surpreende o navio, e os
marinheiros suspeitam de que alguém atrai uma maldição divina. Jonas acusa-se,
pede para ser lançado ao mar, é engolido por um grande peixe e cuspido na
praia. Vai para Nínive, onde prega nas ruas, obtém o arrependimento do rei e do
povo e assim evita o castigo. O livro é tido como uma preparação à revelação
evangélica do amor de Deus, pela piedade demonstrada em relação a Jonas, salvo
da morte, e a Nínive, salva da destruição.
Contemporâneo de Isaías, Miquéias é um homem do campo,
conhece as agruras do trabalho na terra e as injustas relações de dominação que
os donos impõem aos empregados. Por isso, investe contra "os que comeram a
carne do meu povo, arrancaram-lhe a pele e quebraram-lhe os ossos". Ameaça
os usurários, que roubam os campos, tomam as casas, oprimem "o homem e sua
herança". O livro apresenta, em duas seqüências, as profecias de castigos
e as promessas de salvação, e conclui por um apelo ao perdão divino, ao Deus
que "tira a culpa e perdoa o crime, que calcará aos pés as nossas faltas e
lançará ao fundo do mar todos os nossos pecados".
Diferentemente dos profetas menores já citados, Naum
dirige suas críticas apenas aos estrangeiros, contra quem roga a vingança de
Iavé. Em atividade no século VII a.C., entre a queda de Tebas e a de Nínive,
por ele prevista, o profeta é um apaixonado cantor da liberdade. Seu livro, de
apenas dois capítulos, começa por um canto de glorificação a Iavé, como o deus
vingador; seguem-se um poema satírico contra Judá e Nínive, ameaças e palavras
de consolação a Israel; no final, um canto de lamentação fúnebre aos assírios,
com o comentário de que todos os povos aplaudem sua desgraça, pois sobre todos
se abatera continuamente sua maldade.
O oitavo profeta menor é Habacuc, cuja mensagem é uma
profecia de salvação. O livro não traz nenhuma informação sobre sua pessoa nem
sobre a época em que viveu. Compreende três capítulos: o primeiro é um protesto
à vitória dos caldeus sobre Nínive e ao domínio da iniquidade no mundo; o
segundo, também sobre Nínive, apresenta-se na forma de um diálogo entre Deus e
o seu profeta, e traz uma série de maldições contra o opressor, em forma de
duras críticas aos arrogantes, aos que acumulam o que não lhes pertence, aos
que ajuntam ganhos ilegítimos e "constroem uma cidade com sangue e
injustiça"; o terceiro é um apelo à intervenção de Iavé: "Espero
tranqüilo o dia da angústia que se levantará contra o povo que nos ataca."
Contemporâneo de Naum e dos primeiros anos de
Jeremias, Sofonias profetizou em Judá, ao tempo do rei Josias. Seu livro segue
a maior parte dos escritos proféticos, com antevisões de calamidades, oráculos
contra povos estrangeiros e profecias de salvação. Em quatro capítulos, começa
por uma longa série de anunciações do dia de Iavé em Judá, quando se levantarão
urros e gritos, e os homens serão castigados. O segundo capítulo dirige-se
contra as nações dos filisteus, moabitas, no ocidente, amonitas no oriente,
etíopes no sul e assírios no norte. O terceiro concentra suas imprecações
contra Jerusalém, a cidade "rebelde, manchada, opressora". O último
contém as promessas de conversão dos povos e a volta dos dispersos.
O livro de Ageu, décimo dos profetas menores,
apresenta-se antes como um relato de suas atividades do que como uma profecia.
A época é o segundo ano de Dario, rei dos persas, que permitiu aos judeus a
reconstrução do templo. A primeira alocução visa exatamente esse tema, ao
concitar aos trabalhos, como forma de evitar desordens em Judá. A segunda
promete bênçãos aos reconstrutores do templo; a terceira prediz que o esplendor
do segundo templo será maior que o do primeiro; a quarta é uma consulta aos
sacerdotes sobre as impurezas que ameaçam o templo; a última, uma profecia da
escolha de Zorobabel como eleito de Iavé.
As exortações à reconstrução do templo, proferidas por
Ageu, encontram eco em seu contemporâneo Zacarias, sacerdote e penúltimo dos
profetas menores. Seu livro contém três profecias: uma conclamação à conversão,
quando então Iavé se voltará para seu povo; uma narração de visões noturnas; um
apelo à continuação do jejum do quinto mês, comemorativo do incêndio do templo.
Os oráculos, também em número de três, apresentam-se nessa ordem: a vinda do
reino de Iavé, com a aniquilação dos poderes terrestres e o recolhimento dos
israelitas dispersos; uma alegoria, que descreve o bom pastor, desprezado pelo
rebanho, e o mau pastor, cuja morte iniciará um processo doloroso de
purificação; e dois ataques contra Jerusalém.
O último dos profetas menores, Malaquias, viveu por
volta do século V a.C. Há dúvidas se esse era mesmo seu nome, ou um designativo
da função de mensageiro. O livro é um longo diálogo, iniciado com a palavra de
Iavé, ou de seu profeta, que é contraditado pelo povo, ou pelos sacerdotes, e
volta a afirmar o que dissera, de modo mais categórico. O diálogo se desenrola
ao longo de seis alocuções, na seguinte ordem: Iavé assegura seu amor por
Israel; censura os sacerdotes por seu desleixo nos sacrifícios; censura os
judeus por seus matrimônios mistos, com "filhas de um deus
estrangeiro", e os divórcios; avisa que só virá como juiz depois que seu
mensageiro purificar o sacerdócio e o templo; promete que tão logo os dízimos
sejam pagos, pontual e integralmente, cessarão as pragas de gafanhotos e a
perda de colheitas; promete também que no dia do juízo os justos serão
recompensados e os pecadores castigados; finaliza com uma exortação à
observância da lei de Moisés e com a previsão da vinda de Elias, o profeta,
"antes que chegue o dia de Iavé, grande e terrível".
Novo Testamento
As origens mais remotas do Novo Testamento estão nas
necessidades impostas pela catequese na igreja nascente. Na primeira festa de
Pentecostes que se seguiu à morte e ressurreição de Jesus, o Espírito Santo
desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém, em forma de línguas de fogo. Os
discípulos, cujo idioma materno era o aramaico, passaram momentaneamente a
falar em línguas estrangeiras, e assim puderam ser entendidos pelos judeus da
diáspora, presentes ao encontro. O milagre de Pentecostes é entendido assim
como um sinal para a divulgação do Evangelho (Boa Nova) a todos os povos do
mundo.
Os apóstolos e os primeiros discípulos, que
continuavam a participar do culto judaico, conservavam e transmitiam oralmente
as lembranças e palavras de Cristo. Mas, à medida que se iam distanciando, no tempo, da morte de Jesus, e
no espaço, de Jerusalém, impôs-se a necessidade de registros escritos, como
auxílio mnemônico no trabalho de catequese. Foi-se formando assim um acervo de
textos. O Antigo Testamento desenvolvera-se em meio relativamente homogêneo. Os
livros do Novo Testamento contemplam comunidades lingüísticas e culturais bem
diversas, que compreendem, num primeiro período, desde os judeus da Palestina
até os gentios do Egito, Pérsia, Roma e mar Negro. O registro escrito seria a
forma mais segura e prática de manter a unidade de pensamento e assegurar a
divulgação.
Os livros que compõem o Novo Testamento podem ser
agrupados em quatro conjuntos: (1) os Evangelhos, que transmitem diretamente a
palavra de Jesus e relatam os fatos de sua vida, paixão, morte e ressurreição;
os três primeiros -- Mateus, Marcos e Lucas, chamados sinópticos -- podem ser
vistos como um conjunto, em virtude da semelhança de suas versões, e nisso se
diferenciam do quarto Evangelho, de autoria de são João; (2) os Atos dos
Apóstolos, livro histórico, que narra os primeiros tempos do apostolado e a
formação da igreja; (3) as epístolas, cartas dirigidas às primeiras comunidades
cristãs pelos apóstolos, com a finalidade de instruí-las sobre pontos
eventualmente polêmicos ou ainda obscuros e de incentivá-las à prática de uma
vida autenticamente cristã; (4) o Apocalipse, único livro profético do Novo
Testamento.
Evangelho de Mateus. Membro do grupo inicial dos 12
apóstolos escolhidos pessoalmente por Cristo, pouco se sabe da vida de Mateus.
Era um publicano, cobrador de impostos sobre produtos importados. Esse serviço
era uma concessão da autoridade romana, e por isso o publicano muitas vezes
cobrava taxas superiores às estabelecidas, a fim de ressarcir custos e receber
sua remuneração. Essa prática atraía o ódio do povo. Nessa profissão era
necessário um registro acurado das atividades; por isso, é de supor que Mateus
falava e escrevia bem sua língua materna e provavelmente o grego.
Obra destinada
primordialmente a demonstrar a universalidade da missão de Cristo, em quem se
cumpriram as profecias, aos judeus recém-convertidos, o livro de Mateus segue o
esquema típico dos sinópticos: a atividade de Jesus na Galiléia, o sermão da
montanha, os milagres, as parábolas, as incompreensões e ameaças, a entrada
triunfal em Jerusalém, o sermão contra os escribas, ou doutores da lei, o ódio
dos fariseus -- partido religioso que defendia uma rígida ortodoxia em relação
à lei judaica -- a crucifixão e as aparições de Jesus e suas recomendações para
a divulgação do Evangelho a todos os povos.
Evangelho de Marcos. Embora não tenha pertencido ao
círculo mais íntimo dos apóstolos, Marcos participou ativamente dos esforços de
evangelização. Acompanhou Barnabé -- de quem era sobrinho -- e Paulo nas
viagens de Jerusalém a Antioquia, Chipre e Roma. Marcos parece ter-se ligado
mais a Pedro, que o chamou de "meu filho", e a quem certamente serviu
de intérprete. Deduz-se daí que seu Evangelho reflita primordialmente o
testemunho e a visão de são Pedro. Segundo uma tradição, não confirmada, teria
fundado a comunidade cristã de Alexandria, onde morreu.
O livro de Marcos consta de três partes, além do
prólogo: a atividade de Jesus na Galiléia, a escolha dos 12 apóstolos, o
mistério da identidade de Cristo, a pregação em parábolas; depois, a viagem a
Jerusalém, a expulsão dos vendedores do templo, as respostas aos fariseus que
tentavam enredá-lo em perguntas capciosas -- como ao indagarem se seria lícito
pagar o imposto a César -- e a antevisão da ruína de Jerusalém; finalmente, a
condenação à morte, o suplício e a ressurreição. No livro de Marcos, o relato
dos fatos supera em número a transcrição das frases proferidas por Cristo.
Evangelho de Lucas. Gentio de nascimento, segundo o
testemunho de Paulo, Lucas era provavelmente sírio de Antioquia. Médico, membro
da comunidade cristã, era culto e parece ter conhecido bem o grego, pela
elegância do estilo. Acompanhou Paulo na segunda viagem missionária, e
permaneceu por seis anos em Filipos. Fiel companheiro, seguiu com Paulo quando
este foi levado preso para Roma.
O roteiro adotado por Lucas obedece, com poucas
variantes, ao esquema dos sinópticos. Seu Evangelho dirige-se primordialmente
às comunidades dos gentios convertidos ao cristianismo. Fiel às normas de
composição das obras clássicas da época, é rigoroso no que toca à exatidão das
fontes, citação de testemunhas oculares, fidedignidade. Por isso, seu livro
pode ser visto como parte da obra historiográfica, e assim formar uma unidade
com os Atos dos Apóstolos. Outras características do livro são sua permanente
lembrança da bondade de Jesus e a alegria pelo advento da salvação.
Evangelho de João. Cognominado Evangelista, para o
distinguir de são João Batista, João, juntamente com seu irmão Tiago, foi o
terceiro discípulo chamado por Jesus, logo depois de Pedro e André. Homem
simples e sem instrução, como Pedro, ao lado de quem aparece em várias
passagens dos Evangelhos, é citado como "o discípulo que Jesus amava",
"que durante a ceia se havia reclinado no peito de Jesus", e que se
posta ao pé da cruz, ao lado de Maria, a quem passa a receber em sua casa, como
se fosse sua mãe, por instrução dada pelo próprio Jesus pouco antes de expirar.
Do ponto de vista formal, o Evangelho joanino
distingue-se dos sinópticos por seu vocabulário, mais limitado, e por seu
estilo próprio, em que as frases se sucedem de forma circular, em torno do
mesmo objeto, não com o intuito de analisar ou definir, mas para contemplar,
sob vários ângulos, o mistério que ele encerra. Quanto ao conteúdo, seu tema
fundamental é a auto-revelação de Jesus, em que vê baseada toda a doutrina do
cristianismo: Jesus pela encarnação entra no mundo, revela a luz e a vida, que
traz para operar a salvação do homem imerso nas trevas do mundo. João procura
deixar claro que não é propriamente ele quem fala, pois apenas transmite o que
o Senhor revelou; e que não foi senão
pela fé incondicional que chegou ao sentido profundo das revelações. O objetivo
de suas pregações está claramente expresso no próprio texto de seu Evangelho,
escrito "para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais a vida em seu nome".
Atos dos Apóstolos. Estilo, temática, tratamento dos
assuntos -- tudo indica que o autor dos Atos foi Lucas. O grande valor desse
livro está em ter sido escrito por uma testemunha ocular de grande número dos
fatos nele narrados; e na abundância de documentos para os fatos não assistidos
pessoalmente. Constitui portanto excelente fonte para o estudo das primitivas
comunidades cristãs e particularmente do apostolado de Paulo, de quem o autor
parece ter sido discípulo.
O roteiro do livro é como que o viés
do Evangelho de Lucas. Este começa a
partir da Galiléia e, através da Samaria e da Transjordânia, chega a Jerusalém.
Nos Atos, os apóstolos partem de Jerusalém, através da Samaria, "para
todos os confins da terra", o que de fato acontece quando Paulo chega a
Roma. Em obediência a um costume da historiografia antiga, o livro registra vários
discursos, que têm a função de acentuar o sentido dos acontecimentos mais
importantes, como Pentecostes, a primeira dispersão, o batismo de Cornélio --
centurião romano convertido à fé cristã -- e o discurso de Paulo no areópago,
brilhante peça de catequese.
Epístolas. Sob esse título genérico situam-se tanto as
cartas de Paulo quanto as chamadas epístolas católicas. Ambos esses conjuntos
enfeixam escritos circunstanciais, que se remetem a situações concretas, seja
com o intuito de criticar e repreender -- e também de elogiar e incentivar --
seja com o objetivo de esclarecer pontos doutrinários, seja finalmente para dar
notícias das outras comunidades cristãs e de seus integrantes.
Embora não se possa buscar nas
epístolas propriamente uma exposição doutrinária sistemática e completa, é
certo que elas, em seu conjunto, esclarecem e reforçam certos princípios da
filosofia e da teologia cristã. Assim, por exemplo, é por meio da Epístola aos
Gálatas que Paulo critica a discriminação que Cefas começa a fazer entre os cristãos
circuncisos (judeus convertidos) e incircuncisos (gentios que abraçaram a fé
cristã) para deixar claro que "o homem não se justifica pelas obras da
Lei, mas pela fé em Jesus Cristo", conforme o Evangelho.
Epístolas de Paulo. Paulo foi, na nascente comunidade
apostólica, a figura mais polêmica do cristianismo. Ele mesmo trazia em si
características pessoais extremamente marcantes. Sem ser fisicamente atraente
nem ter saúde muito boa, possuía uma força de vontade e coragem pessoal
inquebrantáveis. Essas qualidades somavam-se a uma coerência radical, que o
fazia obedecer cegamente àquilo em que acreditava. Assim foi enquanto fariseu,
quando perseguiu implacavelmente os cristãos; e após a conversão, quando
enfrentou toda sorte de dificuldades, perigos, prisões e martírios, em nome da
fé em Cristo.
O conjunto das epístolas paulinas compreende 14
textos: Romanos, Primeira e Segunda aos Coríntios, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, Primeira e Segunda aos Tessalonicenses, Primeira e
Segunda a Timóteo, Tito, Filemon e Hebreus. Em todas, perpassa sua linguagem
candente, de apaixonado catequista, sem prejuízo de uma fina capacidade de
argumentação e uma clara formulação de princípios doutrinários. Na carta aos
tessalonicenses, por exemplo, baseia-se nas categorias apocalípticas do
judaísmo para dizer que "o Senhor Jesus virá dos céus, com os anjos do seu
poder, e destruirá 'o Iníquo' com o sopro de sua boca e o aniquilará com o
resplendor de sua vinda". Nas suas cartas posteriores, porém, o apóstolo
se torna cada vez menos apocalíptico e cada vez mais doutrinário; mais voltado
também para a prática da vida cristã nas igrejas por ele fundadas. Na carta que
dirige aos gálatas, resume sua posição em relação ao desvio legalista:
"Quanto a mim, não aconteça gloriar-me senão na cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo."
Na primeira epístola aos coríntios (1Cor 13, 1-13)
encontra-se o "Hino à caridade", em que Paulo exalta o amor fraterno
como o principal carisma, aquele que ficará para sempre. Das três virtudes
teologais, fé, esperança e caridade, esta é a primeira, a maior de todas, a que
jamais passará. Na primeira parte do capítulo, Paulo exalta a superioridade do
amor, sem o qual, mesmo que "falasse línguas, as dos homens e as dos
anjos... seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine". Na
segunda parte, refere-se às obras da caridade -- paciente, prestativa, que
"não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho"...
"tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Na terceira
parte, fala da perenidade do amor, que jamais passará, ao contrário "das
profecias, das línguas e da ciência".
Por sua absoluta coerência com a conversão e a nova fé
em Cristo, pela compreensão da universalidade da mensagem cristã, Paulo ficou
conhecido como 'o apóstolo dos gentios', fundador, no espaço de poucos anos, de
comunidades cristãs em todo o mundo greco-romano. Foi ele quem deu à comunidade
cristã a idéia de autonomia, de separação da comunidade judaica. Um dos traços
mais característicos do seu apostolado é a igualdade de todos os fiéis, sem
distinção de raça, sexo ou classe. Daí o episódio de sua discussão com Pedro,
narrada na epístola aos Gálatas, quando Paulo deixa claro que "o homem não
se justifica pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo". Critica
assim a tibieza de Pedro que, pressionado pelos circuncisos (judeus
convertidos), passou a evitar a companhia dos gentios convertidos: "se tu,
sendo judeu, vives à maneira dos gentios e não dos judeus, por que forças os
gentios a viverem com os judeus?"
As sete epístolas que não são da
autoria de Paulo são chamadas católicas (universais), talvez por se dirigirem à
comunidade dos cristãos em geral. A Epístola de Tiago tem como temas principais
a exaltação dos pobres e a condenação dos ricos e a execução de boas obras no
lugar de uma fé estéril. A Primeira Epístola de Pedro tem como objetivo
sustentar a fé dos cristãos em meio às dificuldades e perseguições; a segunda,
apresenta um resumo da teologia em voga na época apostólica. Em ambas,
percebe-se a simplicidade e a perseverança características do príncipe dos
apóstolos. Das três epístolas de João, a primeira é uma encíclica às
comunidades da Ásia, ameaçadas de cisão pelas heresias; a segunda, adverte
contra os que negavam a realidade da encarnação; e a terceira destina-se a
dirimir conflitos de autoridade. A Epístola de Judas objetiva estigmatizar os
falsos doutores, que ameaçam a integridade da fé cristã.
Apocalipse. Para o espírito moderno, a palavra
Apocalipse remete ao sentido de uma catástrofe em escala mundial; mas em seu
primitivo significado grego, significa simplesmente "pôr a nu,
desvendar" os segredos humanos e divinos. A igreja primitiva herdou
diretamente do judaísmo a perspectiva apocalíptica. O Apocalipse, último livro
do Novo Testamento, da autoria de João, representa um gênero literário
completamente diferente de todos os outros livros. O caráter estranho das
visões que apresenta, o simbolismo insólito e muitas vezes enigmático que
exprime, a dramaticidade das cenas grandiosas que evoca, tudo contribui para
tornar esse livro um enigma. Esse aspecto misterioso é reforçado ainda pelo
contraste doutrinário entre seu conteúdo e o dos outros livros do Novo
Testamento.
O autor descreve as visões que teve em Patmos, a mais
setentrional das ilhas do Dodecaneso. A ação desenrola-se no céu, mas a terra
está sempre presente, seja restrita a Jerusalém, seja ampliada aos limites do
mundo conhecido. É o final dos tempos, quando os castigos de Deus se abatem
sobre seus adversários. O Filho do Homem, com uma foice afiada nas mãos,
escoltado por seis anjos, procede à ceifa das nações, à colheita definitiva, o
extermínio das nações pecadoras e pagãs. O demônio, após um interregno de mil
anos, é finalmente vencido e lançado no fogo, onde junta-se para sempre às duas
bestas. Deus venceu e instalou definitivamente seu reino. Os mortos ressuscitam
e são julgados. Um novo céu e uma nova terra substituem o mundo antigo. Desce
dos céus "uma Jerusalém nova, pronta como uma esposa que se enfeitou para
o seu marido". E Deus finalmente habitará com os homens.
Pesquisa / Uso Exclusivo
Eliane Helena
da Silva Nogueira
Ministérios Eclesiásticos
Alguns animais vivem totalmente
isolados. Não se associam nem com outros da sua própria espécie, exceto, com a
mãe no primeiro período da vida e com a companheira (o) durante o cio. O ser
humano, ao contrário, é gregário. Vive em grupos. Tal associação é necessária a
fim de alcançar objetivos que, individualmente, não seriam possíveis. Além
disso, a própria natureza humana sente necessidade do companheirismo e do amor.
Depois de haver criado Adão, Deus disse : "Não é bom que o homem esteja
só." Quem insiste em se isolar luta contra o bom senso e torna-se infeliz.
Como disse Salomão, aquele que se separa insurge-se contra a verdadeira
sabedoria. (Pv.18:1).
Contudo, viver em grupo tem também
seus problemas e cria novas necessidades. O primeiro problema é a direção a ser
tomada. Se são muitos os componentes do grupo, muitas são as cabeças e diversas
as opiniões. Por isso, são necessários os líderes. Não para fazer a sua própria
vontade, mas para interpretar a vontade do grupo e viabilizar sua execução.
Esta é uma dura tarefa. Exige sabedoria e bom senso, porque pode ser que o
grupo esteja enganado quanto aos seus propósitos. Por isso, o líder precisa ter
capacidade e preparação superior a média do grupo, a fim de poder conduzi-lo de
modo eficaz. Outra necessidade que surge com o grupo é divisão de tarefas. É
preciso identificar habilidades, talentos e atribuir responsabilidades.
A liderança é necessária em qualquer
empreendimento coletivo. A igreja não é uma excecão. O líder da igreja é , em
última instância, o Senhor Jesus. Ele é a cabeça da igreja. (Ef.1:20-23).
Entretanto, os homens ainda precisam de líderes visíveis; precisam de modelos
humanos e direção humana, uma vez que nem sempre estão aptos a ouvir a ordem
direta de Deus. Por isso, Deus instituiu ministérios na igreja. O que é um
ministério ? Quais são os ministérios estabelecidos por Deus ? Tal liderança é
ainda necessária nos nossos dias? Como está a realidade das igrejas em relação
a tudo isso ?
Neste estudo procuraremos respostas
a essas questões. Precisamos obtê-las urgentemente, pois a indefinição nesse
assunto tem causado problemas diversos na obra de Deus e dificultado a expansão
do seu Reino.
Entre outras informações, o
dicionário da língua portuguesa nos diz que ministério é "trabalho ou
serviço na igreja". Biblicamente, entendemos que todo serviço cristão que
se desempenha de modo contínuo é um ministério. Desde a liderança até tarefas
operacionais permanentes. Um trabalho eventual não pode ser assim considerado.
Eis aí um fator que serve até para diferenciar ministérios e dons espirituais.
Existem
quatro termos gregos que se relacionam ao vocábulo "ministro" e
"ministério".
Paulo emprega quase que
invariavelmente, diakonos. O termo aparece, nas quatro formas, 25 vezes no Novo
Testamento.
A forma "diakonia"
aparece 24 vezes, sendo traduzida por:- Distribuição de serviço, socorro, serviço, ministério ou administração.
Os ministérios de liderança apresentados no Novo Testamento são :
- Apóstolos
- Profetas
- Evangelistas
- Pastores (bispos, presbíteros)
- Mestres (Efésios 4:11)
Os diáconos
são apresentados como auxiliares. Eles não dirigem a igreja local, mas são
responsáveis por algumas áreas. (At.6).
Ministério é serviço. Logo, o
ministro é um servo. Algumas vezes, o apóstolo Paulo usou o termo
(doulos), que significa escravo. "Onde está pois a jactância ?" O
Verdadeiro espírito do ministro, não deve ser a ambição carnal de mandar ou ser
servido, mas encarnar o que Jesus sempre fez no seu ministério terreno, que foi
"não ser servido, mas servir". (Mc.10:45).
Quando os discípulos disputavam
entre si para saber quem era o maior, Jesus "os chamou para junto de si e
disse-lhes : sabeis que os que são considerados governadores dos povos, têm-nos
sob seu domínio, e sobre eles seus maiores exercem autoridade. Mas entre vós
não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse
o que vos sirva; quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de
todos." (Mc.10:41-44).
Apesar das especificações bíblicas,
as igrejas e denominações estabelecem alguns ministros e desprezam ou ignoram
os demais.
Os Metodistas têm bispos e
pastores.Os Presbiterianos, Assembléia de Deus e outras igrejas pentecostais têm pastores, diáconos e presbíteros.
Os Batistas têm somente pastores e diáconos.
Na seqüência, procuraremos explicitar alguns detalhes de cada um dos ministérios supracitados.
APÓSTOLOS
O nome que designa o primeiro
ministério estabelecido na igreja (I Cor.12:28) é de origem grega ()
e significa "enviado", ou seja, um indivíduo que executa serviço
especial, agindo em nome e pela autoridade de quem o enviou.
O maior de todos os apóstolos é o
próprio Senhor Jesus, que foi enviado pelo Pai para executar sua obra na terra.
(Heb.3:1 Jo.4:34). Para que essa obra fosse continuada após sua ascensão, Jesus
escolheu doze homens. (Mt.10:1-2 Jo.20:21). Um deles, Judas Iscariotes, o traiu
e foi substituído por Matias. (At.1:16-26). Tais homens foram equipados pelo
Senhor com autoridade, poder para operar milhagres, ousadia para pregar, etc.
Tudo isso, mediante a operação do Espírito Santo que lhes fora dado (At.1:8).
toda essa "munição" tinha por objetivo capacitá-los a desbravar todas
as frentes por onde iam e aí estabelecerem a igreja de Jesus Cristo. Muitos
cristãos afirmam que o ministério apostólico não existe mais. Entretanto,
observamos que, além dos doze, o Senhor levantou outros apóstolos no período do
Novo Testamento, como, por exemplo, Paulo e Barnabé. (At.14:14). Por quê ele
não o faria ainda hoje, quando muitos povos estão ainda por serem alcançados
pelo evangelho ?
O apóstolo não é um cacique ou um
papa. Donald Gee diz : "Esse ministério exigia praticamente que um
apóstolo reunisse quase todos os outros ministérios num só homem. Assim, ele
participava da inspiração do profeta, fazia a obra de um evangelista, conhecia
o pastoral "cuidado de todas as igrejas", devia ser apto para
ensinar, ao passo que, atendendo `a administração de negócio, seguia o exemplo
do Senhor em não se esquivar dos deveres de um diácono, quando fosse
necessário."
Possivelmente, muitos dos
missionários da atualidade sejam, de fato, apóstolos de Jesus. Outros há que,
por não terem ido a terras distantes, não são assim reconhecidos, mas estão
desempenhando esse ministério em sua própria "Jerusalém" (At.1:8), e
receberão do Senhor o devido galardão.
PROFETAS
O profeta é a pessoa que recebe a
mensagem diretamente de Deus e a transmite ao povo. Esse anúncio pode ser uma
revelação, uma admoestação, ou uma predição.
Muitos profetas existiram na
história de Israel. Sua presença é constante no Velho Testamento, apontando o
caminho para o povo de Deus. Sua importância era grande pois, como afirmou
Salomão, "Sem profecia o povo se corrompe". (Pv.29:18). No Novo
Testamento, Deus continuou levantando profetas. O primeiro foi João Batista,
que veio no estilo dos profetas antigos, assemelhando-se , sobretudo, a Elias. (Lc.1:76
Mt.11:9-14 Mc.11:32). Seu papel
foi preparar o caminho para o profeta maior - Jesus, que, por sua vez, levantou
outros profetas para orientar a igreja que surgia. No Novo Testamento, existem
menções a esse ministério, havendo muitos deles em Jerusalém, Antioquia,
Corinto, e outras cidades. (At.13:1 At.11:27 I Cor.14:29).
O profeta não é um mero pregador da
palavra, um mestre da Bíblia, nem um preditor de futuro. O profeta é um
ministro de Cristo. Não apela para os poderes da lógica, erudição, oratória,
psicologia, igorância ou misticismo. Sua mensagem pode vir através de uma
pregaçao, mas não necessariamente.
EVANGELISTAS
É uma pessoa dotada de capacidade
especial para pregar o evangelho. Alguns usam esse título apenas em relação aos
escritores dos quatro evangelhos. A Bíblia, no entanto, cita ainda Filipe e
Timóteo como evangelistas. (At.21:8 II Tm.4:5).
Todos os cristãos podem e devem
anunciar o evangelho. Todavia, a maioria não é capaz de fazer uma pregação
propriamente dita. O evangelista é um pregador, e faz isso com maestria,
habilidade, e poder que lhe são conferidos pelo Espírito Santo especialmente
para esse fim. Evidentemente, nem todo pregador é evangelista. É bom frisarmos
também que o trabalho do evangelista não se restringe à pregação, mas abrange
também o evangelismo pessoal.
Consideramos que todo apóstolo é um
evangelista, mas nem todo evangelista é apóstolo. O ministério apostólico é
mais abrangente e extrapola os limites da igreja local.
PASTORES
Voltando à origem do termo, um
pastor é a pessoa que cuida de um rebanho de ovelhas. Seu trabalho vai desde a
procura do melhor alimento para elas, até a defesa contra ladrões ou animais
selvagens que possam atacá-las. Abel foi o primeiro pastor de ovelhas. Os
patriarcas - Abraão, Isaque e Jacó - foram pastores. Esse trabalho era muito
comum no meio dos israelitas e outros povos antigos. O próprio Davi, que veio a
ser rei de Israel, cuidava de ovelhas quando era jovem, e percebeu que, da
mesma forma, Deus cuidava dele e de seu povo. Ao reconhecer esse fato, Davi
escreveu o conhecido Salmo 23 : "O Senhor é o meu pastor e nada me
faltará".
Em muitos outros textos da Bíblia, o
termo "pastor" é utilizado em referência a Deus e aos líderes do seu
povo. (Sl.100:3 Jr.23:1-2). No Novo Testamento, esse título já era usado
normalmente como o usamos hoje. Jesus disse de si mesmo : "Eu sou o bom
pastor". (Jo.10:11). O termo grego para pastor é (poimén).O
ministério do pastor na igreja tem as atribuições que vimos no início :
alimentar, cuidar, proteger, defender, conduzir. Esse é um ministério lindo. Dos
cinco ministérios de Efésios 4:11, o pastor é o que está mais próximo da
ovelha, mais comprometido e mais atencioso para com ela. Nos nossos dias,
constatamos que existem pastores demais. Quando, porém, conhecemos muitos
desses ministros, percebemos que não são, de fato, pastores. Podem até ter um
dos outros ministérios bíblicos, mas, por uma distorção tradicional e histórica
da igreja, receberam o título de pastor. Isto é , algumas vezes, prejudicial,
pois muitos líderes vivem se esforçando para serem o que não são e deixam de
fazer aquilo para que foram chamados.
O trabalho
do pastor na igreja, não é somente batizar, celebrar casamentos , funerais,
pregar sermões, mas, de acordo com Ef.4:11-16 :
-
Aperfeiçoar os santos para o desempenho do serviço de cada membro do Corpo de
Cristo.
- Edificar o
corpo de cristo que é a igreja.
Outros
títulos utilizados para o pastor no Novo Testamento são : bispo e
presbítero.
Bispo - vem do grego
(episkopos). Indica, não ofício, mas função, o trabalho específico de um pastor
dotado de visão administrativa, um superintendente. Ele não faz todo o
trabalho, mas organiza, providencia tudo e depois supervisiona. O termo
episkopos era dado àquele que tinha a função de vigiar, fiscalizar,
principalmente as embarcações. Os gregos e os romanos usavam este termo para
designar superintendentes de obras profanas ou sagradas. O bispo como pastor
tem a responsabilidade de ver que o serviço seja bem feito. Não se encontra no
Novo Testamento o uso do vocábulo bispo no sentido de um oficial eclesiástico
que tem autoridade sobre os outros ministros do evangelho.
Presbítero - significa velho, ancião. Na
primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé, na ida fizeram trabalho
evangelístico e público; no retorno, em cada cidade por onde passaram reuniram
os convertidos, organizaram igrejas e ordenaram presbíteros (At.14:21-23).
Deveriam ser homens de certa idade, firmes na fé, inabaláveis no amor e
constantes na obra do Senhor. Eles foram eleitos pela igreja para desempenhar
funções pastorais na palavra, nos batismos, na celebração das ceias, etc.
O ministério pastoral surgiu no
livro de Atos. Em Jerusalém surgiu o primeiro rebanho pela obra do Espírito
Santo. Constituído de 120 pessoas, no princípio, aumentou para 3.120; foi
crescendo sempre até chegar a "dezenas de milhares" (At.21:20). No
princípio, os doze cuidavam de tudo. Houve problemas e os doze cuidaram da
oração e da palavra e outros homens passaram a ser designados para outras
tarefas. O trabalho do Senhor foi além de Jerusalém e chegou até Antioquia da
Síria. Antioquia organizou trabalhos no continente. Em cada cidade havia
presbíteros. Na era apostólica encontramos pluralidade de pastores em cada
igreja (Fp.1:1). Os presbíteros recrutados entre os convertidos das igrejas,
deveriam ser homens de negócios e de trabalho. Alguns se dedicaram grandemente
ao trabalho do Senhor e passaram a dar tempo integral ao ministério e o
apóstolo Paulo mandou dar a esses homens, salários dobrados (I Tm.5:17). Pelo
retrato que a Bíblia guarda de alguns pastores, homens transformados pelo
Espírito Sando, cheios da graça do Senhor, revestidos de poder, conduta
exemplar, irrepreensíveis, consagrados, dedicados exclusivamente ao ministério
da palavra, bons chefes de família, sérios, operosos e humildes, encontramos
reprodução perfeita hoje em muitos obreiros que se sacrificam por Cristo,
colocam o Reino de Deus acima de tudo e constituem a galeria daqueles que vivem
para glorificar o Senhor. A Bíblia alinha nessa imortal galeria de pastores
reais, Tiago, o irmão do Senhor que foi pastor da igreja em Jerusalém. Paulo e
Barnabé somaram ao dom apostolar o dom pastoral. Um modelo de pastor nos tempos
modernos foi no século passado Charles H. Spurgeon, do famoso Tabernáculo de
Londres e milhares de outros famosos ou que viveram na sombra do anonimato, mas
realizaram o imortal trabalho de conduzir almas a Cristo e apascentá-las com
paciência e amor.
Deus disse : "O meu povo foi
destruído porque lhe faltou o conhecimento". (Os.4:6). Essa afirmação nos
mostra claramente a importância do ensino da Palavra de Deus. O apóstolo Paulo
disse que não queria que os coríntios fossem ignorantes a respeito dos dons
espirituais (I Cor.12:1). Certamente, Deus não quer que sejamos ignorante
acerca de nenhuma das doutrinas bíblicas, pois isso poderia significar a nossa
destruição. Por esse motivo, ele estabeleceu mestres, ou doutores, na igreja.
Estes, são pessoas que possuem o dom da palavra do conhecimento e da sabedoria.
(I Cor.12:8). Além disso, possuem capacidade intelectual e facilidade de
comunicação.
Atualmente, o nome que damos a quem
exerce esta função é o de "professor". Entretanto, o professor não é
tratado com a mesma importância, honra e respeito que o mestre recebia nos
tempos bíblicos. Provavelmente, trata-se de um problema ligado à conjuntura
político-social do nosso tempo, ou, especificamente, da nossa nação, onde a
educação é relegada a último plano. A Bíblia valoriza o mestre, como acontecia
na comunidade judaica. Acima de tudo, vemos que Deus os valoriza e os
estabeleceu na igreja. Esse homens desempenham uma nobre função, carregam uma
grande responsabilidade (Tg.3:1), que só não é maior do que o galardão que os
aguarda na eternidade . (Dn.12:3).
Os apóstolos e profetas são os
alicerces da igreja, sendo Jesus a principal pedra de esquina. (Ef.2:20-22). Os
evangelistas são aqueles que buscam o material para a construção. (Mat.22:9).
Os mestres são os edificadores. Os pastores são os que zelam pelo
"Edifício de Deus". (Hb.13:17 I Cor.3:5-17).
Essa ilustração nos dá uma idéia
aproximada de como é a integração do trabalho dos cinco ministérios. DIÁCONOS
Outro ministério que figura no Novo
Testamento é o dos diáconos. Sua primeira menção se encontra em Atos dos
Apóstolos, no capítulo 6, quando, devido às murmurações dos cristãos
helenistas, foram escolhidos sete homens para a direção do trabalho social da
igreja de Jerusalém.
Hoje em dia, há pessoas que
questionam a utilidade dos diáconos em nossas igrejas. Conta-nos o autor de uma
de nossas fontes bibliográficas o seguinte :
"Depois duma semana passada no
Estado de Virgínia, onde falara numa reunião de diáconos, recebi uma carta da
esposa dum diácono que exercia esse ofício numa igreja batista rural. Lera uma
reportagem daquela escola de diáconos no jornal da localidade e queria saber se
ainda havia razão plausível para a continuação de tal ofício. Haverá algum
serviço particular que o diácono possa prestar numa igreja rural com um número
reduzido de membros ? Dizia ela que o marido era fiel cristão no serviço da
igreja, mas que o ser ele diácono não significava coisa alguma. Na resposta,
assegurei-lhe que o ofício de diácono é escriturístico e , quando bem
compreendido, oferece uma oportunidade real de servir à igreja."
Que significa para a igreja o ofício
de diácono ? Em que afetaria o seu programa, se , por deliberação geral e por
amor à paz esse ofício fosse abolido ? Em muitas igrejas batistas a cessação
desse ofício seria mera formalidade. E mui possivelmente, algumas igrejas até
recebessem com entusiasmo essa mudança. Bom número de diáconos e pastores acham
mesmo que nossas igrejas seriam melhor servidas por outros oficiais e comissões
eclesiásticas. E tais irmãos não são herejes, nem reacionários; em sua maior
parte, estão sinceramente procurando fazer progredir o reino de Deus.
Temos, portanto, que pesar
cuidadosamente as situações que vêm provocando esse questionamento. E devemos
dar-lhe uma resposta sincera, inteligente e escriturística. Por isso, vamos
analisar algumas questões que se formam sobre o assinto :
- Primeiro :
O mundo em que vivemos é diferente. Quais as condições que levaram o povo
pensante a levantar a questão da necessidade de diáconos ? Antes de tudo, temos
que reconhecer o desconcertante contraste entre o mundo do primeiro século e o
do século XX. Enorme distância separa o mundo em que a Igreja Primitiva
deliberou sobre a necessidade de homens para servirem às mesas deste nosso
mundo em que as igrejas hoje lutam por Cristo. O ritmo de hoje é muitíssimo
mais acelerado. Nas nossas igrejas atuais vemos refletida a complexidade da
vida hodierna. O crescimento das grandes cidades, o desenvolvimento das igrejas
em tamanho e número, a multiplicidade das organizações eclesiásticas, bem como
as vastas beneficências que as igrejas desejam oferecer ao povo. Tudo isso
exige novos métodos de trabalho, organizações modernas e de crescente eficácia.
Num mundo como este em que vivemos, mui facilmente nos confundimos no que
respeita ao lugar do diácono na igreja.
- Segundo :
O ofício do diácono tem sido mal interpretado. Em muitas igrejas está mal
definido e mal compreendido o ofício do diácono e o serviço que ele deve
prestar. Boa parte dos batistas têm uma idéia errônea acerca do que o diácono
deve fazer. Que significa para a igreja o ofício do diácono ? Qual a
responsabilidade do diácono ? que função exerce ele ? Se precisamos de diáconos
em nossas igrejas hoje, certamente precisamos também reestimar, reapreciar e reapreender
o serviço que eles devem prestar.
- Terceiro :
muitos choques têm acontecido entre pastores e diáconos. Às vezes assumem a
feição de verdadeiros conflitos, e com isso muito se prejudica a influência e a
obra dessas igrejas. Alguns pastores acham que não podem trabalhar com seus
diáconos. Então, às vezes, ouvimo-los dizer : "Sei muito bem o que devo
fazer. Se meus diáconos não concordarem comigo, levarei o caso à congregação, e
a assembléia que resolva." Uma situação dessas é, de fato, bem desagradável,
e denota enfermidade espiritual. Em algumas igrejas, o diaconato já foi abolido
devido a essas desavenças.
Existem igrejas cujos diáconos se
apropriaram duma autoridade muito contrária aos ensinos do Novo Testamento.
Existe um complexo de "junta", e um pensamento generalizado de que os
diáconos é que são os "diretores" da igreja. Nada mais distanciado da
índole batista. e do esquema neo-testamentário que esta idéia. Onde prevalecer
este errôneo conceito, inevitavelmente surgirão aqueles que afirmam não haver
necessidade alguma de diáconos. Sim, a verdade é esta - não precisamos, nas
nossas igrejas, de tais diáconos, nem de juntas diaconais dessa espécie.
- Quarto :
há muitos outros que servem na igreja. Nas nossas igrejas de hoje há muita
gente que ocupa posições de responsabilidade. São professores de Escola
Dominical, diretores de departamentos, presidentes de uniões, presidentes de
organizações missionárias, membros de corais, e outras atividades afins. Muitas
vezes essas pessoas dão muito mais tempo de serviço à igreja do que mesmo os
diáconos. Nas igrejas grandes das cidades, o número de irmãos eleitos excede,
às vezes, de quinhentos, ou mais, além dos eleitos por classe, ou unidades, e
dos que servem por nomeação. E nessas igrejas , o número de diáconos muitas
vezes não chega a cinqüenta.
Haverá
necessidadede um ofício que dê honra a uns poucos, quando a vasta maioria do
povo que realiza a obra das igrejas não está incluída nesse ofício ? Certamente
os diáconos não fazem mais jus a essa honra do que os outros, e , no entanto,
se lhes confere honra especial por um serviço não específico. Acresce notar que
certa revista aconselha que se contitua em diácono a todo aquele que exerce
algum ofício na igreja, seja homem, seja mulher. Tal idéia, para muitos batistas,
toca às rais do ridículo, mas é certo o raciocínio que a sustenta. Fazem-se até
comparações nada aconselháveis entre o grupo chamado dos diáconos e o dos
outros obreiros ativos da igreja.
De fato, as dificuldades são reais,
e o problema não pode ser esquecido. Muita gente está perguntando qual a
necessidade desse ofício. O bem-estar espiritual da igreja exige uma resposta.
A maioria dos batistas sente que o diaconato é parte inseparável da vida
batista. Mas, as razões da sua existência devem ser claras, concisas,
escriturísticas e práticas.
Sim ! É a resposta mais adequada.
Precisamos dos diáconos em nossas igrejas atuais tanto quanto deles precisaram
os da primitiva igreja de Jerusalém. A compreensão exata e o emprego adequado
do diaconato constituem resposta clara para os problemas vitais que hoje
desafiam as igrejas e, às vezes, emperram o seu glorioso avanço.
O diaconato é um modelo
neo-testamentário. O motivo principal que nos faz reconhecer a necessidade da existência
do diaconato em nossas igrejas hoje deve ser apresentado em primeiro lugar,
pois que todo o resto se relaciona com ele. Precisamos dos diáconos hoje,
porque esse ofício é parte inseparável do modelo da igreja neo-testamentária.
"Modelo Neo-Testamentário" é uma frase mui significativa para nós,
batistas, que gostamos de chamar nossas igrejas de igrejas do Novo Testamento e
que não nos filiamos a nenhuma outra sorte de igreja. Estamos perfeitamente
convictos de que a igreja precisa derivar suas doutrinas, organização e
métodos, e sua comissão igualmente, das páginas do Novo Testamento. Assim, o
programa da igreja deve ser organizado em plena harmonia e inteira consonância
com os ensinos do Livro Sagrado. Foi a direção do Espírito Santo que levou as igrejas
do Novo Testamento a criar o diaconato. A sabedoria divina trouxe à luz o
diaconato, dando-lhe existência, e ele tem, assim, uma finalidade divina.
Será que admitimos o diaconato por
mera tradição ? Absolutamente, não. No estudo deste ofício, três coisas são
verdadeiras e mui significativas quanto à igreja neo-testamentária. Primeira -
aquela igreja estava fundada sobre uma relação íntima, a de pecadores salvos,
com um Deus santo, por meio de Jesus Cristo. Assim, a igreja não é
primeiramente um companheirismo, e sim uma afinidade, cuja pedra fundamental é
a confissão duma fé pessoal em Jesus. Em segundo lugar, a igreja é uma
organização que salienta a grande responsabilidade que temos para com Deus. E,
finalmente, a sua origem divina torna eternos tanto o seu significado como a
sua utilidade. Os programas, os planos e a estratégia de Deus nunca ficam fora
de tempo ou da moda.
Quais os fatos históricos que
devemos considerar aqui ? Relembremos as tormentas que davam contra a igreja
primitiva em Jerusalém. Os judeus parecia estarem convencidos de que a morte de
Jesus poria fim aos seus problemas teológicos. Achavam que uma vez morto o
Chefe dos nazarenos, seus seguidores logo se dispersariam. Algum tempo depois,
no entanto, perceberam que eles ganhavam vida nova, vida esta , oriunda da
certeza de haverem estado com Jesus, pois testemunhavam que Jesus ressuscitara.
Veio o pentecoste, e , com este o poder de Deus e o crescimento da igreja. Uma
das questões que foram levantadas contra a igreja foi em relação ao tratamento
que davam às viúvas, aos órfãos e aos necessitados. Os crentes helenistas da
congregação reclamavam, dizendo que as viúvas hebréias estavam sendo melhor
contempladas que as outras. Foi nesse impasse que o Espírito Santo apresentou
aos doze uma solução: separariam sete homens de certas habilidades e lhes
confiariam os problemas da distribuição. E assim, por sugestão do Espírito
Santo, foram eleitos pela congregaçào os sete, para acudir a quaisquer outras
necessidades da igreja. "Então os doze convocaram a multidão dos
discípulos e lhes disseram : Não é razoável que nós deixemos a palavra de Deus
e sirvamos às mesas. Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação...
aos quais constituamos sobre este importante negócio. Nós, porém,
perseveraremos na oração e no ministério da palavra. (Atos 6:2-4).
No livro de Atos aqueles homens não
recebem o nome de diáconos. São quase sempre chamados de "os sete".
Contudo, há acordo geral em que a eleição daqueles sete varões qualificados
significa realmente o início do diaconato como um cargo na igreja. É no
terceiro capítulo da primeira carta a Timóteo que aparecem cuidadosamente
esboçadas por Paulo as qualificações dos que deveriam servir à igreja como
diáconos. Também no início de sua carta aos Filipenses, lemos isto :
"Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo
Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos". (Filipenses 1:1).
Temos aqui forte base escriturística para afirmar que, começando na igreja de
Jerusalém, o ofício do diaconato se desenvolvera com a aprovação e a bênção do
Espírito Santo.
Deve-se dintinguir entre a obra que
o diácono realiza e o ofício em que é investido. O esquecimento desta distinção
tem acarretado muitos mal-entendidos acerca do diaconato, porque não existe uma
obra que seja feita exclusivamente pelos diáconos, isto é, não há nenhum
serviço que ele faça de que outros não possam participar. Essa distinção entre
a obra e a posição que ele ocupa origina-se do Novo Testamento, onde
encontramos a palavra grega "" empregada tanto para
significar "ministro" como para significar "servo". Tal
palavra é usada na maior parte das vezes não para determinar aquele que tem uma
posição ou exerce um ofício na igreja, ainda que vejamos claramente, pelas
cartas paulinas, existir esse ofício. (Fp.1:1 I Tm.3:8 e 3:12). O Novo
Testamento emprega a mesma palavra para se referir em geral a cristãos, como
servos, e também a oficiais particularmente separados para um determinado
serviço. O diácono tem uma responsabilidade toda especial para com o serviço,
mas serve à igreja na mesma base em que são chamados a servir todos os mais
cristãos.
Dado que o ofício apareceu pela
orientação da sabedoria de Deus, claro está que só deve desaparecer quando dele
nos vierem instruções bem claras. O que se faz necessário é uma redescoberta do
ofício, um novo estudo das Escrituras a esse respeito, e uma reconsagração no
sentido de melhor se avaliar esta criação da vontade divina. O Novo Testamento,
de fato, oferece a resposta certa à pergunta sobre a necessidade de diáconos em
nossos dias.
Os diáconos foram instituídos com
os seguintes objetivos :
- Deixar
desembaraçados os ministros para se dedicarem à oração e ao estudo e ensino da
palavra de Deus.
- Promover a paz na igreja ao
preencher uma carência que estava gerando conflitos.- Promover o bem-estar dos crentes que seriam beneficiados com o seu serviço.
- Reforçar a liderança da igreja.
CONCLUSÃO
A Bíblia nos apresenta diversos
ministérios eclesiásticos. Se Deus os estabeleceu, é porque eles são
necessários e indispensávis. O que se vê, entretanto, é que apenas o ministério
pastoral é valorizado atualmente. Creio que os outros ministérios existem, mas
não são reconhecidos. Quando são, parecem estar em um nível bem abaixo do
pastorado, e talvez até abaixo do diaconato. As igrejas , em geral, não
investem na formação nem na remuneração de outros ministros. Por exemplo : os
evangelistas, exceto os grandes vultos internacionais, não são vistos como
ministros, a não ser que sejam também pastores.
Quem perde com tudo isso ? A própria
igreja. O que vemos em muitas delas ? A liderança está centralizada nas mãos de
um homem - o pastor. A igreja torna-se então um retrato desse líder. Se limita
aos seus limites e se especializa em suas especialidades e dons. Daí o fato de
existirem igrejas "especializadas" em cura, ou expulsão de demônios,
ou profecias, ou libertação de viciados, etc. Isto não é ruim. O mal está do
outro lado da moeda. Uma igreja "especializada" em curas normalmente
é deficiente no ensino da Palavra de Deus. Aí começam os problemas e surgem as
heresias. Para evitar esse tipo de situação Deus estabeleceu ministérios vários
e distintos na igreja. Precisamos valorizar cada um deles. É necessário
descobrir aqueles que os possuem, investir na formação e na remuneração desses
ministros. A liderança deve ser praticada pela equipe ministerial. A igreja que
assim fizer, será equilibrada, crescerá naturalmente e terá saúde espiritual.
BOYER, O.S. - Pequena Enciclopédia Bíblica - Editora Vida
HURST, D.V. - E Ele Concedeu Uns Para Mestres - Editora Vida
NORMAN,
HUSSEL - O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo - Milenium
Distribuidora Cultural Ltda
BÍBLIA
SAGRADA - Versão Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeira - Sociedade
Bíblica do Brasil
BORN, A.VAN DEN - Dicionário
Enciclopédico da Bíblia - Editora Vozes Ltda
NAYLOR, ROBERT - O Diácono Batista - Casa Publicadora Batista
FERREIRA,
AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA - Novo Dicionário da Língua Portuguesa - Editora
Nova Fronteira
TOGNINI, ENÉAS - Eclesiologia
- Edições Convenção Batista Nacional
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